quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Como sair da imobilidade? Como começar a pesquisa?

P:

Uma discente-pesquisadora, que faz o curso de graduação em História em Minas Gerais, pergunta-nos como sair da estagnação. Ela quer começar a pesquisa e a elaboração da sua Monografia final de curso, mas está sem idéias; quando aparecem idéias, ainda esparsas, não sabe como colocá-las no papel. Às vezes, quase entra em desespero. Damos aqui uma resposta rápida, apenas para ela começar a pensar e a sistematizar suas idéias.

R:

Não se desespere. Essa crise inicial - podemos chamá-la "Crise da Delimitação Temática" - não é tão incomum entre os pesquisadores de diversos níveis (da Graduação ao Doutorado).
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O primeiro passo é você escolher um tema viável. Vá para um lugar sossegado, e medite sobre que assuntos você gosta (História da América, História Antiga, Brasil escravista, História Contemporânea, etc). Mesmo que ainda seja um campo amplo de interesses, já é um começo.
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Depois, pense alguns temas dentro deste assunto. Por exemplo, dentro do Brasil escravista, a Abolição. E vá recortando: Dentro da Abolição, a propaganda anti-escravista na Imprensa. Dentro da propaganda anti-escravista na Imprensa, os escritos de Josdé do Patrocínio. Dentro da produção de José do Patrocínio, os artigos publicados por ele em um jornal durante dois anos específicos. Este é só um exemplo. Você pode ir recortando indefinidamente. Você poderia, nesse tema que exemplifiquei acima, escolher um problema: o discurso e a visão de José do Patrocínio sobre as fugas de escravos. É um exemplo só.
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Outra coisa, encontre uma fonte ou grupo de fontes históricas. No exemplo acima, as fontes foram os jornais abolicionistas. A escolha de fontes é também um passo importante para a delimitação do tema e para o desenvolvimento da pesquisa.
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Em seguida, pense um caminho, um roteiro para a Monografia. Pense, por exemplo, uma monografia em três capítulos (por exemplo, determinados por três problemas diferentes dentro do tema, ou então, determinados por uma aproximação concêntrica do tema. Por exemplo, primeiro o contexto mais amplo da época escravista, depois o contexto da imprensa abolicionista, depois a produção discursiva mais específica de José do Patrocínio. São só exemplos.
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Exemplos como este, você pode encontrar para inúmeros campos de interesse: a História Antiga, a História Medieval, e assim por diante. Por exemplo, digamos que você tenha um interesse na Segunda Guerra Mundial. Dentro deste período, recorta como possibilidade de estudos o Nazismo. Dentro do tema do Nazismo, seleciona o aspecto da intolerância étnica dos nazistas. Depois, escolhe a perseguição nazista contra um grupo específico: os judeus, os ciganos, os eslavos. Pode escolher também um local específico na Europa sob o domínio nazista, como a Polônia, por exemplo, e dois ou três anos como recorte temporal. Que fontes pensar para este tema? Jornais, Diários, Correspondência de refugiados?
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Recortar um tema é isso. É ir transformando em um objeto de pesquisa, bem recortado e viável, um campo ainda amplo de interesses. Costumo dizer que um bom tema para pesquisa, especificamente na área de História, deve estar sempre bem apoiado em um tripé: um lugar, um recorte temporal, um problema.
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Leiam o capítulo "A Delimitação do Tema" do livro "O Projeto de Pesquisa em História" (Petrópolis: Vozes, 2010). É um bom começo.

http://sa.compuland.com.br/vozes/detalhes1.php?ISBN=8532631827&Dir=1&Busca=José d´Assunção Barros

José D'Assunção Barros